sexta-feira, 31 de maio de 2013

enquanto você, dor, mia

A noite se estende feito um véu branquinho e sem imperfeições. Textura frágil. As palavras dançam na minha frente em movimentos instáveis: ora se aglomeram concisamente em versos perecíveis, ora se prolongam numa narrativa prolixa e profunda. Verbos soltos pedem complementos noturnos mais constantes e menos transitórios. É a insônia intransitiva que vem inspirar minhas horas...
Seu nome. Sempre você... deslizando na ponta dos meus dedos: outro conto de fadas tecido. A pele. Meus costumeiros desejos (tão prostrados nos seus argumentos atemporais) pedem urgência. Sua habilidade com a matéria... seu talento em representar os papéis que não lhe cabem. Porque você é ardiloso demais quando manipula o que vai por dentro de mim. Sim... no meu lado de dentro: você.
Mais uma vez eu me deito na cama que exige seu corpo e sonho. De olhos quase abertos, na escuridão da realidade impregnada nas paredes de pintura envelhecida, você clareia fantasias e conveniências conjugais. Só pra mim... E é tão denso o que penso sobre você... quando você está sobre mim, no mais íntimo do meu interior. Você amarrotando os lençóis... desorganizando o frio desta cama solitária, que aguarda o gozo e guarda a marca de dois falsos amantes.
No criado-mudo, sua fala sussurra... voz que ressoa em flores, caixas, livros, borboleta... tudo me fala de você nesta noite insone. Suas mãos me tocam em dobraduras e significados desconhecidos. Seu olhar presente brilha e ilumina meu quarto pensante. Seus gatos pisando macio na superfície do meu verso no cio... Fica aqui, nesta cama, a promessa(?) de um desejo sem pressa a penetrar nos pontos inatingíveis da memória que dói. Nesta cama, nesta noite, eu, só, deliro. Divago. Declino. Me aprumo...  Só não durmo.

terça-feira, 28 de maio de 2013

possível final para um romance impossível

Assim, sem escândalo. Mas, ao mesmo tempo, denunciando. Sim, cansei das metáforas. Desisto de todos os subterfúgios engendrados. Meus planos agora são tecidos às claras. Mas com discrição. Chego sorrateiramente à frente de sua janela, nessa rua tão movimentada onde você mora, e escancaro minha intimidade. Com letras garrafais exponho-me num clichê pobre e sem rima: ESTOU APAIXONADA.
Sob o texto, teço (entre parênteses) minhas considerações e ressalvas justificando o ato de vandalismo.
É só pra deixar bem visível. Porém eu sei que você conhece todos os pontos fracos do meu discurso. Quando eu finjo desconhecer o significado daquilo que você não diz. Quando você disfarça e muda de assunto. Quando nós declinamos.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

imagens

Ando pálida de imagens... Carente de metáforas. Tudo dentro minimiza. Você. No espelho interior, vejo a silhueta  perfeita das suas inconstâncias e amenidades imprevisíveis. Hoje postei um cartão-postal com a foto que tiramos naquele passeio que não realizamos. O caminho por onde nossa intenção percorreu inerte de gestos. Nossa viagem sublimada, imaginada, nada. Não há nada que eu possa guardar além  da sua ausência arrogante e redefinida em cada mensagem  sem resposta. É isso que alimenta meu verso. Num pedaço da folha de papel em que penso traçar a nossa história, rabisco mais um insight para um poema incluso:

Pergunto:
por que não sei
se o que falta
é tempo
ou assunto
(ou apenas vontade
de estar
junto)?





domingo, 26 de maio de 2013

rascunhos de um silêncio que não quer calar

Permaneço emudecida. O silêncio tem sido meu tema preferido. Só consigo escrever silêncios imensos, com a intensidade profunda dos que amam o in(a)tingível. Vasculho os entulhos de romances que desmoronaram diante do menor abalo sísmico. Cismo com seu cínico sorriso escondido entre os escombros que restaram das estruturas frágeis e desprezadas.

Desperto com um aperto no peito. Aperto sua ausência. choro em iminência

segunda-feira, 6 de maio de 2013

(...)

Um comentário despretensioso me levou à definição mais precisa do que ele significa. "Por isso você sempre  se refere a ele entre parênteses?". Talvez. (Essa é outra boa palavra para usar quando o assunto é ele.).
Percebi que ele "está" no prefixo de negação mais recorrente das minhas tentativas de definição... às vezes parece erro de digitação. Incógnita inconstante, incerto, ele sempre "in". Ele dentro. E sua presença a dissipar medos em mim. Disseminando sonhos. Sua voz latejando desejos:  fantasias fazendo meu corpo vibrar na sua frequência. Uma onda ressonante: ele sussurrando deliciosas indecências sobre mim.
Na minha explícita entrega, a sintaxe insana rege nossa conjugação. Os corpos: textura texto pretextos tecidos palavras sem sentido (em todos os sentidos). Bagunça léxica e sentimental. Nossa gramática não é capaz de produzir regras. Eu o leio, me deito em seu leito, e ele faz sua leitura de mim.