terça-feira, 31 de dezembro de 2013

último post do ano

Sim, não é por acaso que deixei para postar isto hoje. Dia 31 de dezembro é uma data significativa. Poderia ser qualquer dia do ano, mas algumas situações se tornaram inesquecíveis e eu sempre gosto de relatar! Por exemplo: quem se esqueceria de ter sido "abandonada" pelo namorado neste dia? Eu não consigo me esquecer disso até hoje, tantos anos passados... tantas aventuras recicladas... tanto sentimento desperdiçado. Também não esqueço que foi neste mesmo 31 de dezembro que alguém caiu de paraquedas na minha vida e me fez um mundo de promessas irrealizáveis. Claro que hoje, observando tudo à distância, compreendo que o lado bom dessa história existiu... pois foi daí que nasceu meu segundo filhote (mas com "outro pai"!!!). Penso que cada um tem mesmo uma "missão", um propósito ao passar pela vida da gente. E, apesar de essas duas pessoas de que falei terem sido realmente importantes (não que eu as tenha amado mais, estou querendo dizer em termos de importância mesmo, você entende?), é em você que eu penso em todo 31 de dezembro desde o primeiro ano em que o "conheci" (que "por coincidência" é o 31 de dezembro do mesmo ano!!). E é de você que eu quero falar hoje, neste 31 de dezembro que o mantém tão longe!
Hoje, diferentemente daquele 31 de dezembro, eu não mandarei SMS pro seu celular. Não que não queira... mas a quase certeza da falta de resposta é insuportável. Também não deixarei mensagem inbox no seu facebook, nem mandarei um whatsapp. Hoje, não haverá email registrando os votos que a convenção "pede", nem email confessando que, de todos os papéis que me cabem, o de amante é o que me agrada mais, porque não é preciso representar; é só ser. Hoje você não vai esperar uma ligação, um cartão, um bilhete, pois todas as nossas palavras estão em recesso, e o seu novo status me constrange. Mas, ainda assim, é em você que eu penso hoje, com a mesma intenção, com os mesmos desejos, com o mesmo amor...

sábado, 14 de dezembro de 2013

sobre cumplicidade e outros nomes para os sentimentos

Os sentimentos têm nomes diferentes para cada um. E eu fiquei assustada quando você me disse que gosta(va) da nossa CUMPLICIDADE. Minha falta de entendimento do seu vocabulário me levou a interpretações superficiais sobre sua declaração. E, embora eu aprecie incluir essa palavra no nosso discurso, senti certo descaso (da sua parte) com nosso caso! Pareceu-me que não deveríamos resumir a "isso" uma relação de afinidades tão densas! E, depois do beijo terno que trocamos... sua mão acariciando minha fragilidade exposta... eu fui me acalmando. Ao seu lado, com todas as emoções enroscadas entre as pernas, com todos os desejos emaranhados... em nós... eu comecei a pensar que denominamos distintamente as mesmas sensações. O que eu chamo amor, na sua narrativa, se lê cumplicidade. Mas eu só cheguei a essa conclusão hoje, depois de ler este texto:

"A cumplicidade numa relação sentimental é anseio de muita gente. Na prática, é evento raro e não é um subproduto automático do elo amoroso.

O primeiro ingrediente da cumplicidade entre duas pessoas [...] é a confiança recíproca: terem certeza da lealdade do parceiro.

A confiança recíproca deriva da honestidade intelectual de ambos e da disposição de deixarem seus parceiros cientes do que se passa com eles.

Para que os cúmplices se disponham a falar tudo o que vai em seu íntimo é imprescindível que seus parceiros não assumam posturas críticas.

Ao ouvir uma confidência, o que é cúmplice de verdade retribui com alguma outra intimidade: diz algo parecido que também tenha lhe ocorrido.

A cumplicidade depende, pois, do encontro de parceiros intelectualmente honestos, que sejam confiáveis e que não sejam críticos: não é fácil!"
Flávio Gikovate

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

epígrafe (ou apenas mais um clichê)

"Da primeira vez que fomos para a cama, foi no sofá. [...] Toda história de amor precisa de um café e de um bar. E de vinho. Tomamos vinho, portanto." 
(Julianna Motter)

Café, bar e vinho, não necessariamente nessa ordem, eu acrescentaria ao terminar a leitura do texto. Claro que me lembrei de nós dois. Pensando melhor, eu diria que o sofá em questão, o da primeira vez, é o meu. E usaria o verbo no presente para enfatizar a sua presença. Mas não deixaria de dizer que o seu sofá também acolheu nossos corpos...
Ou, ainda, voltando à trilogia essencial para uma história de amor, eu diria que o bar foi o pretexto, enquanto o vinho era contexto e o café... bem o café foi, pelo menos na nossa primeira vez, o metatexto. E, talvez por tudo isso, agora que nossa intertextualidade não comunga as mesmas entrelinhas, eu não consiga escrever a nossa história... 

E agora acabo de ouvir a música que pode perfeitamente servir de trilha sonora para este texto... (e me lembro até de ter mostrado a canção pra você.. Ai... que saudade!!!)
Chiara Civello



Passo e ripasso
Se posso ritorno
Io canto di notte
E dormo di giorno
Cerco e ricerco
Qualcosa di bello
Dentro il mio specchio
Nascondo un mistero
Non prometto niente
Me amo davvero
Quello che dico
Non e' sempre vero
Ma la mia ingenuita'
Stesa sul sofa'
Sfioa la tua pelle
Ti bacia
E poi se ne va
Metto e rimetto
Un vestito nuovo
Ad ogni sogno
Che trovo e ritrovo
Scelgo le stelle
Per il mio cielo
Sento e risento
Una sensazione
Che con il vento
Puo' cambiare nome
La puoi chiamare
Se vuoi distrazione
Ma ogni verita'
Nuda sul sofa'
Sfiora la mia pelle
Mi bacia e poi
Se ne va
Ma la mia ingenuita'
Stesa sul sofa'
Sfioa la tua pelle
Ti bacia e poi se ne va

domingo, 27 de outubro de 2013

imensamente ínfima

Me recolho no aconchego do seu silêncio. Amuada, sub(-)traio meu sentir para tomar a proporção desprezível e insignificante que você me proporcionou. Minimamente exposta, me encolho... (qual a Alice) me demoro no tamanho reduzido dentro do menor intervalo verbal que sua voz entoa. Ali... mergulho... me deixo transbordar. E a emoção entorna e se espalha por fronhas e frestas, enquanto me molham pequenas promessas... (Mesmo não acreditando, eu guardei suas promessas: o encontro sem pressa, o brinde/banho com o champanhe, a visita à nova moradia... um dia!) Me pergunto, à espera da sua calada resposta, onde eu jogo todo o presente? O que faço com os restos do passado? Nada. Nada disso cabe na mulher de letra minúscula, verbo sem conjugação, no infinitivo, sem flexão possível, rima pobre, discurso sem sinônimos. Nada se fixa nos lençóis, nada segreda entre as quatro paredes. Diminuo também o volume da música para sentir mais alto o eco, o oco, o vácuo: o vazio da caixa postal.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

ode ao tempo

Ternura
Vinicius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
                                                                     [ extático da aurora.


(Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.)

 Hoje comemoramos três anos do primeiro beijo. Você nem sabe, mas eu conto os dias, as horas, as palavras, tudo o que vem de você. Pode parecer meio adolescente, meio bobo. Mas eu contabilizo todos os nossos bons momentos. Coleciono lembranças de nossos encontros furtivos e felizes em suas melhores intenções. Não me leve a mal... é só uma maneira de reviver sempre o que é bom e permanece, apesar das rimas perecíveis e dos instantes voláteis que permeiam nossa história. 
O que importa, hoje, é que há três anos descobri que o gosto da sua saliva tempera o sabor que minha pele exala, quando sua libido fala a mesma língua que a minha.
Eu me lembro de tudo... de cada gesto... da cor difusa dos seus olhos... da chama que seu olhar lançou sobre minhas pernas... da sua habilidade manual, a destreza... sua boca vasculhando com intimidade meus secretos fetiches...
Da leveza sutil no jeito de me tocar, com suavidade e paixão, ao fogo ardente da vela, queimando meus receios e consumindo o ar que me faltava...
Do fundo musical improvisado (eu tão romântica, transgredindo convenções, coloco  The Cranberries para rodar e embalar nossa noite) à trilha sonora escolhida a dedo em noites amenas de carinho...
Do vinho que serviu de pretexto para nossa estreia ao texto propriamente sentido...  
Mas o que importa é que hoje completamos três anos de cumplicidade e mais alguma coisa que eu ainda sei que nome tem...


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

o nó(s) na garganta

Estou tentando há dias escrever sobre nós. Não o substantivo abstrato que fomos, quando os sonhos se amalgamavam enquanto nossos desejos se amavam. Não o complemento direto da pessoa plural que somos quando somamos nossas carências físicas e transmutamos prazer. Não o górdio - dileto assunto que omitimos da nossa inatingível comunicação.
Estou tentando escrever sobre nós. Há muito tempo.
Nós, que nunca atamos. Nós, que sempre sós.
Estou tentando escrever sobre nós: cegos. Nós desfeitos, sem amarras, sem pontas, sem laços.
Ainda há pouco li este poema e mais uma vez tentei...


"incomunicáveis

tu aqui
e eu com saudades
de ti

não do que és – do que foste
da alegria que havia
em teu rosto"

(líria porto)




sábado, 7 de setembro de 2013

sábado especial

Sábado passado, passei-o pensando em você. Passo a passo, passo por onde passei com você. Passeio pelas ruas por onde passamos juntos. Passagem obrigatória! Passo e paro na frente do bar onde você passou, pela primeira vez, a palma da mão sobre minhas coxas. Passo mal só de pensar! Um dia isso tudo será só passado e pode ser que nem eu nem você passemos por isso outra vez. Mas no sábado que passei por aqui, pensei em você... agora é tarde, já passou!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

dobraduras & desdobramentos

Tenho tantos começos para o nosso romance, que me perco nas fantasias decorrentes do título (óbvio) que pulsa entre os dedos. Uma lista de citações colhidas nos seus escritos denuncia a dependência literal que minha imaginação tem de você. Ontem eu pensei em ignorar o início e partir para o clímax: conflitos, intrigas, tramas mirabolantes entrelaçadas: "Então, antes de fechar o caderno, eu escrevi mais uma frase do drama que quero apresentar a você." Frase sem efeito. Inútil elaborar situações artificiais para dar sentido aos escritos impulsivos que produzo para você ler.

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Imagino agora suas digitais deslizando por esta folha de papel... me sinto observada por seus olhos. Olhar à primeira lida. Eu... folheada... e o seu toque me faz mudar de sentido...
Certas habilidades são irresistivelmente sedutoras. Mãos. Você deveria saber. Certamente você sabe. Mas talvez o que não saiba, talvez não tenha noção, é que depois de acompanhar seus gestos dançando graciosamente, os dedos embaraçando movimentos sobre o papel! Depois de comprovar seu talento artístico com o papel colorido – verde: a nossa cor preferida! -, me tornei refém da sua destreza. Como já poderia ser previsto, eu que sou tão previsível não negaria o senso comum. Porque, ainda que pareça singular, sou tão comum... Queria mesmo fugir desse lugar-comum...
Mas o clichê é o que de mais original vem revelar, construir, compor esta ficção.
Eu tão sintética, sintática, tão gramaticalmente correta... não sou capaz de usar a objetividade em nenhuma oração. Acho que é por isso que prefiro os poemas. Acho que é por isso que, quando me ponho a brincar com as palavras, acabo escolhendo o poema.

domingo, 25 de agosto de 2013

prólogo

Procurando inspiração para começar a escrever aquela história, para, enfim, terminar depressa com aquela novela, foi que eu encontrei a sua narrativa. Estava lá, era um texto longo, de não-sei-quantos-mil caracteres, e incontáveis aventuras amorosas. Era tudo imperfeitamente engendrado; uma narrativa comum e sem sofisticação de estilo. Então era isso, pensei!, durante todo tempo vivemos a farsa de mais uma ficção. Trágica, dramática ou óbvia demais para os personagens que assumimos antes que a cortina se abrisse? Piegas é que não era. Você sabe manipular os substantivos com a precisão de um artesão. Você cria imagens inusitadas com as metáforas mais populares. E você seduz. Põe adjetivos doces para amenizar períodos nebulosos e desconexos. Sua linguagem atraente, palavras.
Na minha versão, os parágrafos tinham outra intenção. Eu usaria tons diversos para colorir aquelas mesmas palavras. Mas quem começou a discorrer sobre nós foi você; e por isso essas orações me pareciam fora de contexto.
Levei certo tempo para me acostumar com seu jeito desinteressadamente carinhoso. Demorei para "entender" aqueles sinais sutis e distorcidos de admiração. Mas você foi tecendo as páginas, encorpando o enredo... e quando eu menos esperava, você pôs o verbo na entrelinha que eu mantinha incompleta! 
Assim, sem muito critério sintático mesmo! Você simplesmente me fez objeto indireto daquele verbo intransitivo. E eu, que tenho por princípio fazer só o meu trabalho de revisão, me senti tão sem função naquela frase! Sugeri até que você revisse, que excluísse ou trocasse o sujeito. Eu queria que você fosse o sujeito. Queria que você não usasse tantas reticências ao me conjugar com seus defeitos. Eu queria... 
Mas o romance está no final, já desfilaram naquelas linhas, naquelas páginas, todas as idiossincrasias a que um amador  tem direito. 
(Pensei agora como é bom escrever poemas... a licença poética nos livra dessas armadilhas!)


“Y debo decir que confío plenamente en la casualidad de haberte conocido. Que nunca intentaré olvidarte, y que si lo hiciera, no lo conseguiría. Que me encanta mirarte y que te hago mío con solo verte de lejos. Que adoro tus lunares y tu pecho me parece el paraíso. Que no fuiste el amor de mi vida, ni de mis días, ni de mi momento. Pero que te quise, y que te quiero, aunque estemos destinados a no ser.”
(julio cortázar)

sábado, 24 de agosto de 2013

tsunamis e intempéries

De repente nada mais faz sentido. Meus sentidos não obedecem ao reflexo natural das articulações. Tudo é transitoriamente tempestivo e incerto. Sempre foi assim, na verdade. Nunca houve tempos de paz e tranquilidade quando o pensamento estava povoado por lembranças suas. Mas agora que essa onda gigantesca de realidade me atingiu e varreu sonhos tão entranhados nos meus dias... agora, que a áspera e trágica transparência agride minhas pupilas com letras fosforescentes e nenhuma poesia traz o tom apaziguador (nada apazígua a dor)... agora eu posso me sentir em perfeito estado de torpor.
Há uma imensidão de abismos engolindo meus planos... planos simples e plenos de cumplicidade! Planos que agora não encontram um lugar comum em nossa lista de interesses.
Uma inadequação lógica sem precedentes na história da matemática clássica ou da física quântica. A multiplicação constante de dores interiores e intransponíveis. O que escrever agora? Como acrescentar brilho ao enredo do romance natimorto? Nas entrelinhas só uma tristeza e a completa falta de argumentos ... Totalmente fora de contexto, eu tento, teço mais um capítulo: o final, última e única possibilidade para a continuidade do que parecia tão vasto de intenções...

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

entre silêncios e declarações

Eu queria que a nossa história tivesse outro fim. Que não tivesse fim. Só esse meio bonito e aconchegante entre as nuvens. Só esse email (o primeiro que você me mandou!) poeticamente instigante e repara-dor. Eu esperava encerrar esse romance com uma promessa de sucesso. Eu rascunhei um best-seller!! Eu escrevi cada capítulo me (ins)pirando nos parágrafos que iniciávamos a cada beijo. Eu me iludi com as frases que você postava sobre mim quando deitava e deixava o verbo latejar... reverberar... E eu pensava que poderia compor um grande campeão de vendas com a nossa história. Mas agora a prosa perdeu o prazer de viver. As conjugações conjugam sujeitos outros. Eu imaginei tantos começos pro nosso romance! Pura ingenuidade de poeta! Agora vou começar pelo fim.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

sobre os eu-te-amo ditos entre tantas coisas e os eu-te-amo sobre todas as coisas

Hoje eu quase disse. Foi por um clique. Sorte minha o verbo ter declinado, porque os sujeitos estavam na ponta dos dedos. As teclas já estavam digitadas. Era só "puxar o gatilho" e lá iriam minhas impressões... Medo. Não disse porque senti medo.
Lendo sua mensagem... notícias frescas trazidas por uma tempestade de ilusões! Tive de me conter (você sabe que não gosto de guardar, não sou de aguardar) para não sair declarando tudo que vem há tempos sendo represado aqui dentro. Ah, como foi difícil resistir!!! E controlar minhas atitudes tempestivas!
Mas é bom notar que hoje superei o impulso imediato de escrever com todas as letras, em dialetos que só você conhece, com neologismos que inventamos quando compartilhamos sensações inclassificáveis e repletas de rótulos convencionais... e todos os clichês que eu teimo em resgatar e relembrar e usar de novo para me fazer acessível e previsível.
E hoje quase eu disse. Mas me calei porque escrever, ali, na sua caixa de mensagens, a frase "proibida" (sim.. eu me proibi dizer a verdade a você!), podia parecer leviano, podia soar vazio... e eu espero tanto o melhor momento de lhe fazer a minha confissão! Foi por pouco e hoje eu quase disse. Mas... eu preciso dizer sem usar essas mínimas palavras.... porque eu amo você.

"O Eu te amo é uma coisa muito, muito séria e que faz o encontro das pessoas no universo ser significativo. É lindo ser amado, faz bem amar.
A gente passa a vida esperando um eu te amo sincero, e quando ouve... pelos céus Lóry! Desconfia de quê? Se não fosse verdade, se calaria! Você já teria ido embora, e esses meses todos seriam pra quê?"
(de Lilia Reis)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

rebobine, por favor!

Acordo dentro de um filme. Os movimentos, os passos, a cena. Pela janela escorre um fiapo de felicidade, atravessando o meu mau humor incomum. Reflexos de saudade brilham mais intensamente neste enquadramento desproposital. Você caminha com segurança entre os móveis imóveis da minha sala. Seus gestos confirmam a falta de veracidade dos atos. Estamos um diante do outro. Diante de silêncios e covardias. As palavras perderam a voz na nossa comunicação. Só os olhos falam. Em câmera lenta, você se movimenta. Na minha direção. Lentamente você entra em cena. Dentro do filme, seu papel é secundário. você não se importa em atuar mal. Representa desleixadamente seu papel com superioridade. Deste ângulo, interno, eu atropelo sua inércia desmedida e pratico abusos. As ações suspensas no pensamento congestionam o desenvolvimento do gesto. Eu gesticulo indicando-lhe um caminho, você me percorre.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

enquanto você, dor, mia

A noite se estende feito um véu branquinho e sem imperfeições. Textura frágil. As palavras dançam na minha frente em movimentos instáveis: ora se aglomeram concisamente em versos perecíveis, ora se prolongam numa narrativa prolixa e profunda. Verbos soltos pedem complementos noturnos mais constantes e menos transitórios. É a insônia intransitiva que vem inspirar minhas horas...
Seu nome. Sempre você... deslizando na ponta dos meus dedos: outro conto de fadas tecido. A pele. Meus costumeiros desejos (tão prostrados nos seus argumentos atemporais) pedem urgência. Sua habilidade com a matéria... seu talento em representar os papéis que não lhe cabem. Porque você é ardiloso demais quando manipula o que vai por dentro de mim. Sim... no meu lado de dentro: você.
Mais uma vez eu me deito na cama que exige seu corpo e sonho. De olhos quase abertos, na escuridão da realidade impregnada nas paredes de pintura envelhecida, você clareia fantasias e conveniências conjugais. Só pra mim... E é tão denso o que penso sobre você... quando você está sobre mim, no mais íntimo do meu interior. Você amarrotando os lençóis... desorganizando o frio desta cama solitária, que aguarda o gozo e guarda a marca de dois falsos amantes.
No criado-mudo, sua fala sussurra... voz que ressoa em flores, caixas, livros, borboleta... tudo me fala de você nesta noite insone. Suas mãos me tocam em dobraduras e significados desconhecidos. Seu olhar presente brilha e ilumina meu quarto pensante. Seus gatos pisando macio na superfície do meu verso no cio... Fica aqui, nesta cama, a promessa(?) de um desejo sem pressa a penetrar nos pontos inatingíveis da memória que dói. Nesta cama, nesta noite, eu, só, deliro. Divago. Declino. Me aprumo...  Só não durmo.

terça-feira, 28 de maio de 2013

possível final para um romance impossível

Assim, sem escândalo. Mas, ao mesmo tempo, denunciando. Sim, cansei das metáforas. Desisto de todos os subterfúgios engendrados. Meus planos agora são tecidos às claras. Mas com discrição. Chego sorrateiramente à frente de sua janela, nessa rua tão movimentada onde você mora, e escancaro minha intimidade. Com letras garrafais exponho-me num clichê pobre e sem rima: ESTOU APAIXONADA.
Sob o texto, teço (entre parênteses) minhas considerações e ressalvas justificando o ato de vandalismo.
É só pra deixar bem visível. Porém eu sei que você conhece todos os pontos fracos do meu discurso. Quando eu finjo desconhecer o significado daquilo que você não diz. Quando você disfarça e muda de assunto. Quando nós declinamos.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

imagens

Ando pálida de imagens... Carente de metáforas. Tudo dentro minimiza. Você. No espelho interior, vejo a silhueta  perfeita das suas inconstâncias e amenidades imprevisíveis. Hoje postei um cartão-postal com a foto que tiramos naquele passeio que não realizamos. O caminho por onde nossa intenção percorreu inerte de gestos. Nossa viagem sublimada, imaginada, nada. Não há nada que eu possa guardar além  da sua ausência arrogante e redefinida em cada mensagem  sem resposta. É isso que alimenta meu verso. Num pedaço da folha de papel em que penso traçar a nossa história, rabisco mais um insight para um poema incluso:

Pergunto:
por que não sei
se o que falta
é tempo
ou assunto
(ou apenas vontade
de estar
junto)?





domingo, 26 de maio de 2013

rascunhos de um silêncio que não quer calar

Permaneço emudecida. O silêncio tem sido meu tema preferido. Só consigo escrever silêncios imensos, com a intensidade profunda dos que amam o in(a)tingível. Vasculho os entulhos de romances que desmoronaram diante do menor abalo sísmico. Cismo com seu cínico sorriso escondido entre os escombros que restaram das estruturas frágeis e desprezadas.

Desperto com um aperto no peito. Aperto sua ausência. choro em iminência

segunda-feira, 6 de maio de 2013

(...)

Um comentário despretensioso me levou à definição mais precisa do que ele significa. "Por isso você sempre  se refere a ele entre parênteses?". Talvez. (Essa é outra boa palavra para usar quando o assunto é ele.).
Percebi que ele "está" no prefixo de negação mais recorrente das minhas tentativas de definição... às vezes parece erro de digitação. Incógnita inconstante, incerto, ele sempre "in". Ele dentro. E sua presença a dissipar medos em mim. Disseminando sonhos. Sua voz latejando desejos:  fantasias fazendo meu corpo vibrar na sua frequência. Uma onda ressonante: ele sussurrando deliciosas indecências sobre mim.
Na minha explícita entrega, a sintaxe insana rege nossa conjugação. Os corpos: textura texto pretextos tecidos palavras sem sentido (em todos os sentidos). Bagunça léxica e sentimental. Nossa gramática não é capaz de produzir regras. Eu o leio, me deito em seu leito, e ele faz sua leitura de mim.

domingo, 21 de abril de 2013

parágrafo único

Nós: sujeitos indeterminados e indefinidos. Declinamos regências. Flexionamos. Joelhos e palavras. Qual a melhor posição para as interjeições nessa escrita? Trocamos o lugar  das metáforas dentro da frase impronunciável. Gosto da transitoriedade do verbo que conjugo no seu corpo-lar. A casa lar. Gosto do encadeamento dos (pro)nomes recitados silenciosamente... em sussurros.. cicios... A falta de ar dos sujeitos que dispensam vírgulas entre seus predicados e reverberam... em nós.

sábado, 30 de março de 2013

silencio

O silêncio que mora em mim não tem outro  nome. Mudo. O verbo sem conjugação possível para a sua pessoa. Mudo. Calo o amor que implode por dentro e impede que meu organismo funcione plena mente. Um corpo inerte traduzido em braile. Mudo. Tudo o que gira sobre mim tangencia um desejo reprimido de amar a sua palavra. Gestos imprecisos contornam a sintaxe perfeita de um discurso em desconstrução permanente. Eu sou a mulher que engole os neologismos que você inventa para amenizar a concretude dos meus substantivos amargos e ácidos. Você discorre. Você diz: "Corre!". E eu permaneço. Absorta e diluída. Me liquefaço em rimas aparentemente profundas e naufrago nos vocábulos interrompidos que você dispara quando me diz: "Para!". Eu não digo. Eu não paro. Não ando. Não corro. Morro. Mudo meu verso. Meu verso mudo. Falo. No meu verso sempre falo (de você).

domingo, 17 de março de 2013

notas avulsas

Acordo com seu nome. Na minha boca você tem gosto inconfundível. O prazer, o gozo, o desejo. Tudo tem o mesmo gosto que o seu nome na minha boca quando acordo. E suas palavras ressoam pelos cantos da casa. No quarto, as paredes recendem a gozo. Reacendem o gosto. Impregnadas. Na cama em que você depositou as últimas gotas de um gozo infinitamente pleno reverbera o silêncio contundente do seu corpo. Sempre achei "engraçado" seu jeito silencioso de gozar, contrastando com meu gemido ensurdece-dor. E hoje acordar com você na cabeça, feito ideia fixa, foi qualquer coisa... algo assim como perturbador.
Na mesa do café da manhã seus passos rondando os espaços e rituais que você nunca frequentou. Hábitos solitários que nunca pluralizamos por sabermos dos riscos. Intimidade em excesso poderia nos tornar mais distantes. Viro o líquido da xícara como quem está a sorver uma dose de veneno. Amargo. Degusto sua ausência à mesa sentindo um incontrolável esvaziamento do corpo. Não me lembro de ter sentido sua falta ali de forma tão insistente.
A imagem irrefletida no espelho destoa da cena.
Fujo para o meu refúgio mais seguro: o trabalho. Me escondo entre as linhas que algum autor desavisado deixou para eu revisar. Eles (esses autores outros) não sabem que você é minha melhor inspiração. Eles gastam os dedos no teclado para me dar mais trabalho. Escrevem suas fórmulas e equações, regras e muletas textuais sem usar a artéria mais preciosa a um escritor (de verdade). Eles escrevem, sem carregar a verve.
E é por isso que eu deixo o trabalho de lado e paro para ler você. Suas palavras parecem vir da minha boca! Sua narrativa permeia meus sentidos como quem rabisca garatujas incompreensíveis. Seus verbos me excitam a língua e eu salivo seus poemas como se estivesse a balbuciar... Às vezes seu sujeito fala em primeira pessoa e eu o leio como vocativo. Um chamamento.
Coincidência ou não, ontem li dois textos que me remetiam a você... e eu me permiti viajar na possibilidade de escrever para você contando meus desejos reais. Minhas aspirações ensandecidas e minhas (ins)pirações recorrentes.
Vários filmes me vêm à mente. Penso na trilha sonora: "gosto do seu gosto musical". Concluo: eu gosto do seu gosto visceral.
Agora tudo faz sentido.
Tudo é sentido.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

do que somos feitos

Já faz quase uma semana que minha vida deveria ter voltado ao normal. Mas nunca se volta a ser o mesmo depois de uma experiência tão intensa. As pernas ficam cambaleantes sem motivo, não se equilibram com a mesma arrogância de antes, quando eu dizia cheia de orgulho "não preciso de ninguém para seguir meu caminho". As coisas acontecem e fraturam nossa petulância, as cicatrizes visíveis denunciam o estrago.
Ontem eu parecia mais segura quando olhava no espelho e refletia a esperança de um encontro. Já faz uma semana que me escondo dos espelhos. Tranquei as imagens daquele reflexo num ponto inusitado e convergente com a nossa história. Já faz uma semana que eu praticamente me prostro diante das lembranças inerte e incandescente. Apática e vulcânica. Kafkanianamente irreconhecível aos olhos de qualquer desatento observador.
As fraturas se manifestam em partes menos necessárias para o equilíbrio do corpo. É como se a matéria tivesse sido atropelada por emoções tão fortes que se encontra agora em estado de decomposição.
Sim, primeiro foram as pernas, os braços (que eu julguei doerem por falta de um corpo no abraço), as costas, toda a extensão da coluna, o pescoço... e também o peito, o tórax, eu digo, ali parece que a devastação foi maior... e a boca (vazia), os olhos (vazios)... e a cabeça (vazia): tudo vai doendo conjuntamente, feito engrenagem, tudo encaixado para doer.
E já faz quase uma semana...

domingo, 13 de janeiro de 2013

poda

Depois de passar os dias arrancando pétalas de flores murchas do jardim, desfolho, hoje, todas as lembranças que compunham aquela história desarvorada.
As raízes pedem solos mais enriquecidos para se aprofundar! A semente que carregamos em bagagens separadas não vingou. Permaneceu muda, ainda que tenhamos tentado dizer "adeus" numa tarde ensolarada.