domingo, 30 de dezembro de 2012

posta-restante

Não espero respostas. Você não precisa responder a todos os textos que lhe envio.
Eu só escrevo para você porque acredito que sempre haja ainda mais uma frase, mais um advérbio modificando o rumo da nossa prosa desgovernada e imprecisa.
Não tenho nenhuma pretensão... nenhuma forma de cobrança.
Só escrevo para você para que você saiba que ainda invento regências para os verbos que aprendi a declinar depois que você substituiu o sujeito das nossas conjugações, tirou os plurais dos nós e mudou toda sintaxe da minha oração.
Não. Eu não escrevo para você supondo que você vai perder seu tempo lendo as minhas mal-intencionadas linhas. Não vislumbro um sinal de concordância entre nossos discursos desencontrados e antagônicos em sua essência.
Você não precisa retribuir nenhuma das minhas mensagens. Não precisa assinar recibo de recebimento nem nada. Você não precisa dizer nada.
Porque eu só escrevo para você para não desaprender a técnica... é só um exercício de memorização. Porque eu não quero esquecer nenhuma das tantas felicidades que descrevemos juntos, numa folha em branco. Escrevo porque não posso apagar a história intensa que traçamos. Um no outro. Outro no um. (Sei de cada um dos nossos adjetivos, de todos os nossos predicados... e é tão mais elegante escrever na primeira pessoa do plural!)

Você não precisar responder.

Você não precisa retribuir.

Você não precisa concordar.

Você  só precisa existir para eu me inspirar... e escrever para você.


domingo, 16 de dezembro de 2012

(destr)oços do ofício

Não, este texto não deveria estar registrando minhas impressões. Mas o verbo insiste em trair minha indiferença e me faz analisar experiências profissionais com total passionalidade. Justo eu, que prezo pela correção da sintaxe, me vejo envolvida nas construções assustadoras da sua prosa inquieta. Tento controlar as flexões e os reflexivos pronomes das personagens que você manipula em mais um dos seus clichês. Faltam concordâncias, há excesso de intervenções e prosódias. Num único parágrafo, você erra a regência  e eu contextualizo suas falhas em orações menos subordinativas. Mas seu discurso me confunde os conceitos e abala minha certeza. Misturo-me, então, aos figurantes que você escolheu como convidados para assistir com imobilidade ao desenrolar da sua narrativa inconstante. Oscilo diante da transitividade de suas ações. Sujeito-narrador. Você escreve para mim várias cartas sem remetente declarado. Eu não leio suas críticas dissimuladas nos comentários efusivos que você acrescenta às notas de rodapé que não explicam o comportamento inconjugável da terceira pessoa do plural no último capítulo desse romance.
("Elas" sou eu em variações múltiplas de papéis.)
Resolvo a questão elaborando um poema sumário e redefino o foco:

Quem é você, afinal,
(entre todos os eus que constrói)
só mais um predicado ou meu herói?