domingo, 26 de agosto de 2012

para um domingo qualquer

Dia da criação acontecer... e a palavra anda solta dentro do pensamento estático no assunto proibido. (VOCÊ). Devo falar seu nome baixinho, porque ninguém pode ouvir meu amor. Eu, que costumo ser tão efusiva, me ponho dissimulada mente a escrever seu nome nas linhas do meu corpo. Eu, que costumo gritar os verbos de dentro em todas as conjugações, rabisco em letras minúsculas o quanto você me faz feliz.
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Preciso confessar: hoje roubei as orquídeas do jardim alheio
porque a flor que eu esperava não veio
e eu queria uma cor mais viva no interior do meu dia

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O seu silêncio corrói minha poesia. E eu, que gosto tanto da inspiração dos domingos, prendo a respiração... arranco as folhas do livro que escrevemos juntos... e queimo mais um dia da sua ausência.



domingo, 19 de agosto de 2012

sob nuvens


Começo o dia abrindo os olhos para me certificar mais uma vez do silêncio que você deixa na caixa de entrada do meu correio eletrônico. Sei que passei dos limites e entupi a sua lixeira com apelos, lembranças, pedidos inócuos de atenção... Você deve estar achando que sou louca (palavras que você também me escreveu retornam agora pra você com um acréscimo de fatalidade).
Para atenuar meu desespero, passo os olhos pelas notícias publicadas nos perfis amigos... sim, é fato, o dia está lindo lá fora. Enquanto a falta de chuva obstrui os pulmões dos cidadãos de bem, eu transbordo essa chuva particular, isso ajuda a umedecer as mucosas da narina e impede que eu sucumba com falta de ar... você escorrendo pelo meu rosto (foi a maneira que eu encontrei de tirar você da cabeça... de dentro de mim... dos meus pensamentos insensatos e corroídos pela ausência de uma palavra sua).

E se eu tentasse lhe dizer meus desastres emocionais nesta manhã clara de domingo? Você ouviria meu pedido? Nem todas as nuvens anunciam tempestades.., Às vezes elas são apenas desenhos malfeitos de momentos felizes... às vezes as nuvens são apenas deformações de desejos inteiros de felicidade... desmanchando-se num céu sem horizontes a vislumbrar... 
Desculpe, mas eu não consigo (d)escrever minha dor.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

resiliência

E depois, quando nada parece mais fazer sentido... ela se lembra de uma característica que pode defini-la: resiliência. E até isso a fazia efêmera como a flor!
Tudo o que doía... ia, agora, pelos ares, em voos harmoniosos... por campos outros. Sorria. E era seu velho novo sorriso!
Foi como uma tempestade de sorrisos... regando seu tímido jardim...
Porque agora é hora de voltar a sorrir... reagir... deixar a deformidade num canto do passado, de preferência dentro do baú.
O verdadeiro tesouro está aqui: presente.
Ah... "o que passou passou" e os próximos dias são de sol, risos e flor!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

fim de férias (II)


Agora, que me despeço da ociosidade e da esterilidade criativa, posso olhar para dentro e tentar me livrar do peso desses dias. Aprendi a contar os dias com você, no dia em que me ensinou a real matemática do tempo. E, durante esse tempo desprovido de noções cronológicas, observei, insensata, o tempo passar. Não descansei o pensamento nem um segundo sequer. Mesmo tendo consciência de que o que passou ficou para trás, mesmo sentindo a falta de sorriso nas gargalhadas que furtivamente soltei...
Só agora, que a rotina começa a ocupar seu lugar no nosso espaço incomum de viver, eu sinto os ombros ainda mais doídos, a voz mais silenciosa, o coração descompassado na constante arritmia. Denso, o olhar também vaga pelos dias condenados à amargura.

Uma tristeza antiga me acena da janela... a brevidade da íris que você regou e viu florir... a felicidade em registros fotográficos (sem os negativos, tudo agora é revelação!).  

Tudo é passado simples. Mas você conjuga o verbo no tempo errado, e põe no meu presente sonhos irrealizáveis de poesia e saudade. Como seu eu pudesse reeditar o romance perdido...

(No fim, a melhor coisa que me aconteceu nestas férias foi o fim delas!)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

abstinência


Alucinadamente cometo incursões à caixa de correspondência. De meio em meio minuto. Nada de email. Nenhuma resposta abranda essa ânsia desesperada de esperar. A distância, que torna a incomunicabilidade mais acessível aos meios, ironicamente faz menos alcançáveis os emails nas pastas disponíveis por essas bandas não muito largas. Falha da memória não programável, que armazena automaticamente os arquivos que desejamos remover e processa nossos dispositivos, que se batem, rebatem, em bytes infinitamente insignificantes e de duração questionável.
Quando o abominável F5 não apresenta aplicabilidade, outros spams chegam ao meu novo endereço eletrônico. Por um ou dois segundos, os olhos se distraem na caixa de entrada do todo-poderoso Outlook. Alarme falso. Envelope amarelo fechado, remetido por sabe-se lá quem ponto com, sem o conteúdo desejado, vai direto para a lixeira.
Aproveito para acalmar a taquicardia relendo as mensagens recebidas de usuários menos passionais. Pego atalhos e caio em outras redes, lá onde outros perfis sorriem. O encontro tão ao alcance do teclado. Imagens digitalizadas na memória primitiva são expostas e compartilhadas com amigos comuns com quem não nos relacionamos mais... As impressões digitais permanecem facilmente reconhecíveis.
Novo clique no botão “atualizar”... e sou salva pela queda da conexão. 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

fim de férias

E os dias agora seguem vazios do seu olhar. Acordo. No meu quarto de não dormir, as nossas ações ainda desobedecem ao silêncio imposto pela distância de todos esses sussurros, que gritam nos meus ouvidos na hora em que me deito sobre a sua ausência. Sob o edredom macio seu cheiro incendeia meus gestos... (foi com as piores intenções que decidi envolver sua pele em meus lençóis e carências naquela tarde vadia).
Hoje há um sol brilhando insuportavelmente lindo no quintal... e longe de mim, muito próximo a você, eu sei das cercas vivas que adornam a paisagem nostálgica da nossa incompletude. Insustentável. Lembro, penso, deliro. Uma necessidade perene de sonhar e ser feliz me sacode. Um tanto desequilibrada e ingênua, me aproprio das fantasias que plantamos mutuamente. O solo parecia fértil. Regamos nossos sonhos e eles não brotaram onde os semeamos. No entanto, sua íris floresce no meu jardim todas as manhãs, quando abro a janela e não encontro seu corpo ao meu lado.
A vida implora vida. Eu chovo torrencialmente para que essas dias renasçam.
 
No seu diário, apenas nomes enumerados à revelia se amontoam... Minha alcunha não frequenta sua lista de presenças indispensáveis.