segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

sufoco

detesto os dias brancos de você. dias sem sorrisos. eu detesto dias sem verso ligeiro. detesto o dia inteiro pela metade. dia de inverno frio ardendo verão em saudade e ausência. eu detesto. detesto escrever em vazios sem-sentidos. detesto o que não é dito. o que está inescrito nas entrelinhas sem subterfúgios. detesto silêncios na tarde. tarde de espera. detesto que você tarde. eu detesto.

domingo, 9 de janeiro de 2011

"na primeira manhã que te perdi"*

Estranhei o costume rotineiro de acordar sozinha. Como se a sensação desconfortante de solidão fosse tão distante que não cabia mais nas manhãs de domingo. O sonho nitidamente interrompido antes do fim. O travesseiro imóvel. A janela. Escuro. Era muito cedo pra me levantar num domingo. A cama, repassando cada cena daquela história, amortecia o vazio do quarto. Pensei em você. Seu cheiro nutrindo lembranças mornas... Seu corpo exalando a permanência na minha pele. Suas mãos folheando meus instantes de lucidez. O gosto brotando, a intocável suavidade deslizando entre os lábios. Sua voz decifrando a melodia dissonante das minhas manhãs solitárias. Num intervalo constante e profundo. Silêncio. Pensei em você. Seus olhos contando doçuras e mistérios, enquanto meus segredos atravessavam seu olhar. Não vi arrependimento, nem culpa... mas o perdão fora concedido quando eu inadvertidamente cedi e me entreguei a você.

* Da música de Alceu Valença