domingo, 9 de janeiro de 2011

"na primeira manhã que te perdi"*

Estranhei o costume rotineiro de acordar sozinha. Como se a sensação desconfortante de solidão fosse tão distante que não cabia mais nas manhãs de domingo. O sonho nitidamente interrompido antes do fim. O travesseiro imóvel. A janela. Escuro. Era muito cedo pra me levantar num domingo. A cama, repassando cada cena daquela história, amortecia o vazio do quarto. Pensei em você. Seu cheiro nutrindo lembranças mornas... Seu corpo exalando a permanência na minha pele. Suas mãos folheando meus instantes de lucidez. O gosto brotando, a intocável suavidade deslizando entre os lábios. Sua voz decifrando a melodia dissonante das minhas manhãs solitárias. Num intervalo constante e profundo. Silêncio. Pensei em você. Seus olhos contando doçuras e mistérios, enquanto meus segredos atravessavam seu olhar. Não vi arrependimento, nem culpa... mas o perdão fora concedido quando eu inadvertidamente cedi e me entreguei a você.

* Da música de Alceu Valença

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