Tenho tantos começos para o nosso romance, que me perco nas
fantasias decorrentes do título (óbvio) que pulsa entre os dedos. Uma lista de
citações colhidas nos seus escritos denuncia a dependência literal que minha
imaginação tem de você. Ontem eu pensei em ignorar o início e partir para o
clímax: conflitos, intrigas, tramas mirabolantes entrelaçadas: "Então,
antes de fechar o caderno, eu escrevi mais uma frase do drama que quero
apresentar a você." Frase sem efeito. Inútil elaborar situações
artificiais para dar sentido aos escritos impulsivos que produzo para você ler.
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Imagino agora suas digitais deslizando por esta folha de
papel... me sinto observada por seus olhos. Olhar à primeira lida. Eu...
folheada... e o seu toque me faz mudar de sentido...
Certas habilidades são irresistivelmente sedutoras. Mãos.
Você deveria saber. Certamente você sabe. Mas talvez o que não saiba, talvez
não tenha noção, é que depois de acompanhar seus gestos dançando graciosamente,
os dedos embaraçando movimentos sobre o papel! Depois de comprovar seu talento
artístico com o papel colorido – verde: a nossa cor preferida! -, me tornei
refém da sua destreza. Como já poderia ser previsto, eu que sou tão previsível
não negaria o senso comum. Porque, ainda que pareça singular, sou tão comum...
Queria mesmo fugir desse lugar-comum...
Mas o clichê é o que de mais original vem revelar, construir,
compor esta ficção.
Eu tão sintética,
sintática, tão gramaticalmente correta... não sou capaz de usar a objetividade
em nenhuma oração. Acho que é por isso que prefiro os poemas. Acho que é por
isso que, quando me ponho a brincar com as palavras, acabo escolhendo o poema.
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