domingo, 17 de março de 2013

notas avulsas

Acordo com seu nome. Na minha boca você tem gosto inconfundível. O prazer, o gozo, o desejo. Tudo tem o mesmo gosto que o seu nome na minha boca quando acordo. E suas palavras ressoam pelos cantos da casa. No quarto, as paredes recendem a gozo. Reacendem o gosto. Impregnadas. Na cama em que você depositou as últimas gotas de um gozo infinitamente pleno reverbera o silêncio contundente do seu corpo. Sempre achei "engraçado" seu jeito silencioso de gozar, contrastando com meu gemido ensurdece-dor. E hoje acordar com você na cabeça, feito ideia fixa, foi qualquer coisa... algo assim como perturbador.
Na mesa do café da manhã seus passos rondando os espaços e rituais que você nunca frequentou. Hábitos solitários que nunca pluralizamos por sabermos dos riscos. Intimidade em excesso poderia nos tornar mais distantes. Viro o líquido da xícara como quem está a sorver uma dose de veneno. Amargo. Degusto sua ausência à mesa sentindo um incontrolável esvaziamento do corpo. Não me lembro de ter sentido sua falta ali de forma tão insistente.
A imagem irrefletida no espelho destoa da cena.
Fujo para o meu refúgio mais seguro: o trabalho. Me escondo entre as linhas que algum autor desavisado deixou para eu revisar. Eles (esses autores outros) não sabem que você é minha melhor inspiração. Eles gastam os dedos no teclado para me dar mais trabalho. Escrevem suas fórmulas e equações, regras e muletas textuais sem usar a artéria mais preciosa a um escritor (de verdade). Eles escrevem, sem carregar a verve.
E é por isso que eu deixo o trabalho de lado e paro para ler você. Suas palavras parecem vir da minha boca! Sua narrativa permeia meus sentidos como quem rabisca garatujas incompreensíveis. Seus verbos me excitam a língua e eu salivo seus poemas como se estivesse a balbuciar... Às vezes seu sujeito fala em primeira pessoa e eu o leio como vocativo. Um chamamento.
Coincidência ou não, ontem li dois textos que me remetiam a você... e eu me permiti viajar na possibilidade de escrever para você contando meus desejos reais. Minhas aspirações ensandecidas e minhas (ins)pirações recorrentes.
Vários filmes me vêm à mente. Penso na trilha sonora: "gosto do seu gosto musical". Concluo: eu gosto do seu gosto visceral.
Agora tudo faz sentido.
Tudo é sentido.

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