terça-feira, 18 de outubro de 2016

sobre as saudades que somos

"Na saudade descobrimos que pedaços de nós já ficaram para trás.
E descobrimos, na saudade, uma coisa estranha: desejamos encontrar, no futuro, aquilo que já experimentamos como alegria, no passado.
Só podemos amar o que um dia já tivemos."
(Rubem Alves)

Achei "engraçado" topar com esse post sobre saudade logo depois de ter trocado algumas palavras inbox com você. Achei graça porque antes dos costumeiros "beijos" de despedida, excepcionalmente desta vez, foi você que escreveu "estou com saudade de você". E nos despedimos entre essas saudades: a sua e a minha. Nossas saudades plurais. Saudade que se multiplica, e produz essas saudades sem medida, singularmente plural.
Você não acha curioso uma frase escrita assim tão retoricamente desencadear toda essa minha sintaxe?!
Eu acho engraçado isso, mas não rio. Escrevo. Escrevo para ver se a saudade para de machucar, tentando pôr pra fora esse gesto de repetição inconsciente e racional que é sentir saudade assim, sempre, sem controle.
Você sabe que guardo nossas saudades... E que ponho todas elas no minúsculo músculo cardíaco que de vez em sempre faz festa com as lembranças mais carregadas de saudade. Sabe? (Não diga que não sabia, tá?) Eu tenho muitas saudades de nós! Saudade de quando estávamos atados. Amarrados, mas livres. Eu nunca quis você nessa ideia de sufoco, nem de prisão. E tenho saudade de você livre e preso a mim. Simbioticamente unidos. É desse nós que tenho saudade, entende? Tenho saudade do toque dos seus dedos desembaraçando minha razão, fazendo fluir minha inflexibilidade e minha teimosia. Tenho saudade do seu olhar náufrago... dentro das minhas inconstantes convicções. Tenho saudade, sim. Saudade da palavra pronunciada com calma umedecendo meu sexo não verbal. Sim, eu tenho saudade. Muita saudade do seu corpo, inteiro. Da sua pausa, do seu movimento, do nosso discurso... do nosso silêncio e do nosso riso... do aconchego no seu peito quando as saudades exaustas se rendem ao nosso desejo já frouxo... saudade do verso que escorre... saudade do poema que tecemos quando em gozo pleno acontecemos.

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