quinta-feira, 3 de novembro de 2016

la costumbre

"Tú me acostumbraste
a todas esas cosas,
y tú me enseñaste
que son maravillosas"

Alguma coisa entre o deslumbre e a intimidade. Hora do almoço. Sabores recentes que se pretendem constantes. Mastigo vagarosamente o prato que você nos preparou. Me farto. Você falta. Refaço nosso ritual à mesa: me alimento da saciedade das fomes que excedem. As sensações sobre a mesa muito extensas para caber no verso. Mal cabem na casa. Impregnam os cômodos. Não me incomodo com a presença perene das mãos que ainda suas me apalpam. Lembranças táteis. Vago pelo quarto. Troco os lençóis, e quase toco seu corpo. Membros explícitos sobre mim. Me prostro diante da imagem. Levo algum tempo para me acostumar com a mudança de hábito. Onde antes lacuna, hoje acúmulo e alguns neologismos. O caminhar disponível pela sala dá lugar ao senso de responsabilidade. Assumo meu papel neste enredo novo que se apresenta em capítulos longos e densos, com a profundidade do seu olhar através das lentes. Finjo desconcerto e por dentro me sinto protegida. Subterfúgio. Você alcança minha nudez retirando camadas de intenções. Me desnuda. Mergulho na memória corporal da sua astúcia. Despojamento e lascívia à flor da pele. Outra sede cede, atravessa, desce... aquece. Ardo.

E só agora, que você exige a quantidade exata de palavras, minha rima se mostra rara, escassa... e o que sinto parece tão excessivo. E entre narrativas e descrições intermináveis, me estendo: em excessos. A poesia não suporta a limitação das linhas.


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