Agora, que me despeço da ociosidade e da esterilidade criativa,
posso olhar para dentro e tentar me livrar do peso desses dias. Aprendi a contar
os dias com você, no dia em que me ensinou a real matemática do tempo. E, durante
esse tempo desprovido de noções cronológicas, observei, insensata, o tempo
passar. Não descansei o pensamento nem um segundo sequer. Mesmo tendo consciência
de que o que passou ficou para trás, mesmo sentindo a falta de sorriso nas
gargalhadas que furtivamente soltei...
Só agora, que a rotina começa a ocupar seu lugar no
nosso espaço incomum de viver, eu sinto os ombros ainda mais doídos, a voz mais
silenciosa, o coração descompassado na constante arritmia. Denso, o olhar também
vaga pelos dias condenados à amargura.
Uma tristeza antiga me acena da janela... a brevidade
da íris que você regou e viu florir... a felicidade em registros fotográficos
(sem os negativos, tudo agora é revelação!).
Tudo é passado simples. Mas você conjuga o verbo no
tempo errado, e põe no meu presente sonhos irrealizáveis de poesia e saudade. Como
seu eu pudesse reeditar o romance perdido...
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