sábado, 13 de novembro de 2010

sonho real*

Finalmente, nos reencontramos. E nossos olhares reagiram da única forma que podiam... Sem a angústia que permeia um relacionamento mal resolvido, sem as conclusões precipitadas a nosso respeito, sem mentiras... Apenas nossa mesma e antiga sinceridade... Inesquecível...

Juntos, debruçamos em palavras recheadas de nosso passado. Cada frase dita parecia enfeitada com o sabor das lembranças boas... (recordações do que talvez teríamos sido). Mas não havia nenhum resquício de arrependimento... Ninguém se assumia infeliz!

Meus pensamentos mais obscenos, no entanto, só queriam saber, depois de tanto tempo: como seria sentir seu gosto na minha boca ansiosa outra vez? Como você me mostraria a direção certa do seu abraço? Adivinharíamos ainda o que o outro está desejando? Como saber?!!

A noite passava branda... e tratamos de incendiá-la brindando nossas bocas com uma nostalgia quase palpável... E o fogo aqueceu nossos rostos... transitou entre nossos precisos e tão bem-intencionados gestos.

Sem promessas inúteis, que nunca fizeram parte de nossos sonhos, concordamos que era necessário mastigar certa porção de nosso caso adolescente nesses dias de rara felicidade: transaríamos como fizemos durante anos, sem julgamentos morais. (Ao contrário, sempre nos pareceu muito justo, digno e certo compartilhar esses momentos.)

E foi assim... Houve um antes e uns depois e durante... e depois houve mais antes e durantes e durou mais ... depois e antes: as roupas entre nós, misturadas à pele de cada um... e o despir-se mútuo e simultâneo... o espalhar-se e o dissolver dos nossos líquidos, a saliva, o suor...

Esses vinte anos puseram outras cores no sexo imaturo que costumávamos fazer... Seu toque, agora, toma meu corpo de modo mais voraz... Seus lábios, talvez hoje mais gentis, amordaçam meus gemidos, seus dentes mordiscam meus atalhos... Você é mais intenso na arte de me saciar...

Nosso orgasmo acontece orquestrado por gritos sustenidos... regido por um sussurro bemol... nossos tons e semitons e o silêncio das horas que nos separaram daquele instante!

E nossa entrega é tanta e tão densa... que perdemos o ar, o fôlego, perdemos o medo... E nos encontramos em tudo o que havíamos perdido nos corpos um do outro... Vazios e plenos!

* Inspirado na canção homônima de Lô Borges.

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